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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Rua Prefeito Júlio Barbosa de Souza (Jardim Pinheiro)

            No início do século 19, vindos de Portugal, instalaram-se nas terras arujaenses, onde hoje está situado o Bairro dos Barbosas e adjacências, o Sr. José Barbosa de Souza e Dona Escolástica Barbosa de Souza. Dentre seus filhos destacou-se Mariano Barbosa de Souza, que apesar de ter perdido uma das mãos num acidente com os fogos de artifício que produzia, foi o primeiro professor em Arujá. A Escola Estadual no Jardim Pinheiro leva seu nome. Morreu jovem, em 1891, deixando o filho Zeferino Barbosa de Souza com apenas dois anos de idade.

            Zeferino deu continuidade à atividade do pai, produzindo fogos de artifício, pois o povo da época dava muita importância às festas religiosas, que aliás era o motivo principal das alegres reuniões e diversões. E procissão e quermesse sem foguetes não teria a menor graça. Além desta atividade também chegou a ser subdelegado e sustentava a família trabalhando no seu armazém anexo à sua casa que ainda se conserva na Av. dos Expedicionários, onde hoje é a empresa Arujá Gramas.

            Casado com Dona Benedita Leopoldina de Almeida teve os filhos: Benedito Barbosa de Souza, Julio Barbosa de Souza, Paulo Barbosa de Souza, Benjamin Barbosa, José Barbosa de Souza e Maria Aparecida de Souza.

            Aqui começa a nossa história, com o nascimento de Júlio Barbosa de Souza em 11 de Março de 1916 nas terras de seu pai que hoje é denominado loteamento Bairro dos Barbosas.

            Naquela época Arujá resumia-se à área rural (Correias, Retiro, Pedra-Fala, Penhinha, São Domingos, Fontes, Tijuco Preto, Fazenda Velha) e um pequeno núcleo urbano, onde hoje é a Rua Major Benjamin Franco. Julio começou a trabalhar com o pai na fábrica de fogos aos 8 anos de idade e casou-se em 1947 com Dona Maria Benedita dos Santos de Souza.

            Com o passar dos tempos, Júlio, já chamado de Júlio Fogueteiro, ficou muito conhecido nas cidades da região pois não havia festa em que não participasse com seus fogos de artifício. Dessa forma passou a privar da amizade de muitas autoridades, tendo sido convidado em 1956 pelo prefeito de Santa Isabel, Sr. Joaquim Simão (pai do ex-prefeito Nenê Simão), a ser subprefeito do Distrito de Arujá.

            O Sr. Zeferino e o Júlio adoravam festas e sempre que havia uma oportunidade reuniam a turma da roça e da cidade em suas casas ou na Igreja de São Benedito, na Praça do Relógio, fornecendo comida o dia inteiro. Muita carne a Dona Benedita cozinhou. O foguetório era responsabilidade dos dois.

            Já havia um movimento em prol da emancipação de Arujá do qual participava juntamente com outros arujaenses, destacando-se o Benjamin Manoel (Beijo), Edmundo Ramos Barbosa, Saturnino Barbosa, Chico Firmino, dentre outros. Mesmo com poucos recursos queriam unir esforços para o desenvolvimento da cidade sem depender do que acontecia em Santa Isabel.

            Era virtual que Julio fosse candidato a Prefeito. Além do mais seu pai Zeferino e seu sogro, o Sr. Julio Antonio dos Santos, o Júlio de Brito, eram cidadãos de referência.

            Na campanha em 1959 o Júlio e seu vice, Benedito Ferreira Franco, o Didi, pai da dona Flora Franco Larini, esposa do prefeito Abel Larini, faziam a campanha a pé, de casa em casa. O seu adversário era Rolando Tinucci, que fora vereador em Santa Isabel, eleito pelo Distrito de Arujá, e já se utilizava de um automóvel e cabos eleitorais. Quando se encontravam era uma gozação. Rolando chamava o Júlio de “comedor de farinha”, “caipira”, “ceguinho” dentre outras ofensas. O vice do Rolando era o Alexandre Ribeiro, pai do João “Peteca”.

            A eleição foi na Escola Mista de Arujá, na Rua Major Benjamin Franco e a apuração foi em Santa Isabel vencendo Júlio Barbosa de Souza e seu vice por 13 votos de diferença, 239 a 226. Nesse dia como não poderia deixar de ser foi o maior foguetório na cidade.

            Elegeram-se como vereadores Amadeu Rodrigues Norte (29 votos), Benedito Pedroso de Almeida (Dito Bina) (32 votos), Benjamin Manoel (eleito Presidente da Câmara) (42 votos), Edmundo Ramos Barbosa (35 votos), João Benedito Manoel (27 votos), José Paulo Simões (33 votos), Noburo Nakayama (38 votos), Reinaldo Santângelo (22 votos) e Saturnino Barbosa (34 votos).

            Era Janeiro de 1960, Arujá havia sido elevada à condição de município e o Prefeito e Vereadores foram diplomados em Santa Isabel. O que fazer agora ? Dotar a Prefeitura de móveis e contratar funcionários. O Júlio saiu pela cidade tentando convencer as pessoas a trabalharem na Prefeitura. Prometia no máximo um salário mínimo, mas já dizia que poderia falhar em algum mês, mas o horário era convidativo: das 12:00 às 16:00 horas.

            Benedito Branco de Morais foi o funcionário número 01, pois já trabalhava como funcionário público em Mogi das Cruzes até 1940 e depois em Santa Isabel. O número 02 foi o Narciso José Lopes, que foi contratado como varredor de rua. O número 03 foi o Benedito André, o número 04 foi o Virgílio dos Ouros. A número 05 foi a Sidônia Nasser do Prado, mãe do Vereador Souzão. O funcionário de número 06 foi o Juvenal Barbosa que trabalhava na Pedreira Vicente Matheus, mas conciliava o horário saindo às 11:00, vindo de bicicleta até a Prefeitura, que ficava na Rua Major Benjamin Franco, e voltando após as 16:00 para a Pedreira. Depois foram contratados Virgílio Benitez de Campos, o primeiro tratorista (trator este comprado com os recursos próprios do Sr. Julio), José Barbosa, Benedito Rodrigues Coutinho, João Rodrigues Camargo (João Doro), Jorge Cruz, Isabel Rodrigues da Cunha, Antonio André, Mário Rodrigues de Camargo, Benedito Rodrigues do Prado, Antonio Machado Coutinho, Benedito Martins Guimarães (Guima), o Fulgêncio que foi o primeiro lixeiro de Arujá, utilizando a sua carroça, o Sr. Pinheiro, pai do “Tiguira”, que foi o primeiro coveiro e Sebastião Parreira, o primeiro motorista de ambulância, dentre outros.

            Como Arujá precisava de uma escola maior, desapropriou uma área de 3.600 m2 pertencente ao Sr. Edmundo Ramos Barbosa para lá construir com a ajuda do governo estadual o Grupo Escolar Dr. Washington Luiz Pereira de Souza. Em Maio de 1961 tirou licença para tratamento de saúde por oito meses. O vice, Didi, havia se mudado da cidade com toda a família e com certeza não voltaria para assumir a Prefeitura, pois o cargo não era remunerado. Portanto assumiu a Prefeitura o Presidente da Câmara, o Beijo. Era o início das obras da escola, cujo diretor, Sidney Wolf, também construía uma casa em frente. Após 6 meses as obras foram concluídas. Antes do previsto o Julio reassumiu a Prefeitura, presumivelmente já curado, e terminou o mandato em 31 de Dezembro de 1963.

            Em sua gestão calçou com paralelepípedos as ruas Rodrigues Alves e a Major Benjamin Franco, fez a praça da Igreja, a praça do Relógio e abriu estradas com a ajuda braçal dos trabalhadores roçando a mata. Tinha grande preocupação em proporcionar educação. Criou uma escola no Bairro dos Correias e outro no Bairro São Bento além de uma Biblioteca Municipal. Dizia aos filhos que a única herança que podia deixar a eles era o estudo, tendo proporcionado a todos a oportunidade de estudarem.

            Governando com o apoio de um vereador e a oposição dos demais, todo projeto que Júlio enviava à Câmara era rejeitado. Mas como na sua opinião todas as obras eram urgentes, elas eram realizadas mesmo assim, sob a sua responsabilidade, o que provocava ainda mais fúria da Câmara Municipal. Devido a essa disputa de poderes certa vez sofreu uma tentativa de “impeachment”, porém quando enviaram para o Fórum de Santa Isabel, o juiz, Dr. Agenor, não deu maior atenção por falta de alegações ou “provas do crime”.

            Após deixar a Prefeitura, de onde dizia não ter sentido saudades, pois “passou quatro anos no inferno”, continuou com sua atividade na fábrica de fogos de artifício até que o Júlio Fogueteiro veio a falecer em 20 de Julho de 1988. Costumava dizer que a única satisfação que teve foi quando na sua gestão a pessoa que loteou o Jardim Pinheiro lhe disse que iria batizar a rua principal com o seu nome. E assim fez, deixando Júlio muito honrado com a homenagem que foi oficializada em 1985 através do Decreto de número 1.195.

            Deixou os filhos: Luiza de Souza Andrade, Áurea Barbosa de Souza, Ézia Santos Souza, Domingos Barbosa dos Santos, Hilmar Barbosa dos Santos, Ademar Barbosa dos Santos e Vicente Barbosa dos Santos.

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