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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Entrevista - Pedro Campos Fernandes - Consultor em Gestão de Resíduos Urbanos


Ponto de Vista: Porque tanta preocupação com o lixo?
Pedro Campos Fernandes: Pouquíssimas pessoas se dão conta do que acontece com o seu lixo doméstico depois que o colocam no portão. Após o lixo ser colocado do lado de fora de casa ele passa por três fases: coleta, transporte e destinação final. As duas primeiras, apesar de serem caras, satisfazem razoavelmente. O problema está na destinação final. É importante que seja feita a conscientização sobre a destinação do lixo. Em países desenvolvidos é um sinal de cultura saber descartar o que não se quer mais dentro de casa. Os prefeitos têm a obrigação de instituírem campanhas eficientes e permanentes para que a população se conscientize que, além de uma questão ambiental é uma questão de saúde pública.

.de Vista: Como é a operação de descarte do lixo na atualidade?
PCF: Normalmente o lixo segue para lixões, aterros remediados e aterros sanitários. Um “menos pior” que o outro, porém todos são condenáveis por agredirem o solo, a água e o ar. O aterro sanitário, a despeito de ser tolerado, apenas adia o problema. São verdadeiras bombas que se autodetonarão em 30 ou 40 anos.

.de Vista: Existe alguma fiscalização nestes aterros e com que freqüência? E porque são sempre liberados para continuar seu trabalho?
PCF: A CETESB, órgão ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente é a responsável por esta fiscalização. Os aterros são obrigados a fornecer todos os dados necessários para este acompanhamento e ainda há as visitas regulares. Apesar dos aterros que recebem o lixo dos municípios do Alto Tietê estarem com sua vida útil praticamente esgotada, os aterros são sempre liberados por falta de alternativa. Se não para eles, pra onde mandar o lixo? Qual cidade quer ter um aterro regional? Então, após alguns ajustes emergenciais, o aterro ganha uma sobrevida e assim vai indefinidamente.

.de Vista: Qual é a solução aplicada em outros países?
PCF: Ásia, Europa e Estados Unidos já praticam há muitos anos a solução definitiva: transformam o lixo doméstico em dinheiro. Isso mesmo, em dinheiro! O Brasil produz por ano cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos urbanos. Só o Alto Tietê, sem Guarulhos, gera 1.500 toneladas por dia. Mas estamos pertinho de começar a resolver este problema. Chegou o momento de instalarmos as nossas usinas de transformação de lixo em energia (calor, vapor e eletricidade). Quanto ao investimento que o município teria que fazer, a resposta é: nenhum. Empresários já detectaram que é lucrativo este negócio e estão dispostos a investir na instalação de usinas de reciclagem energética. A prefeitura só precisa mandar o lixo para lá, nada mais. Ao mesmo tempo em que as usinas serão construídas, a população deve educar-se ambientalmente. Levar menos embalagens para casa, encaminhar o que não quer pra doação ou para reciclagem e jogar fora o mínimo possível.

.de Vista: Porque há tanta falta de interesse por parte dos prefeitos em investir em usinas de lixo?
PCF: Muitos prefeitos, por temor ou por outras razões, hesitam em participar desta solução. Desprezam o fato de que um colapso na coleta de lixo urbano por três dias significa 4.500 toneladas de resíduos nas portas das casas. Uma das primeiras, senão a primeira usina deste tipo deverá ser instalada em Ferraz de Vasconcelos. O prefeito Jorge Abissamra tentou formar um grupo de prefeitos para atrair uma usina dessas a nível regional quando foi presidente da AMAT (Associação dos Municípios do Alto Tietê). Visitou diversas usinas na Ásia e na Europa e decidiu encarar o desafio. Haverá um centro de recepção e triagem de materiais recicláveis administrada por cooperativas de catadores, uma usina termoelétrica que transformará todo o material inservível em energia e indústrias que aproveitarão os produtos gerados. As obras deverão iniciar no próximo semestre e ficarão prontas em dois anos.

.de Vista: Já existe alguma legislação que direcione para essa solução?
PCF: A legislação é recente e poucos estão atualizados. Novas ações para amenizar o impacto dos resíduos sólidos devem ser implementadas nos municípios brasileiros a partir da regulamentação da Lei Federal 12.304/2010, que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, sancionada pelo ex-presidente Lula no final de Dezembro. Todos os cidadãos são responsáveis pela destinação correta dos resíduos que produzem, mas os prefeitos serão severamente penalizados se, em dois anos não tiverem implantada a coleta seletiva e, em quatro anos, se o lixo recolhido na cidade não tiver um destino que respeite todas as leis ambientais.

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